02/08/07

Aos amigos

" Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.

Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,

com livros atrás a arder para toda a eternidade.

Não os chamo, e eles voltam-se profundamentedentro do fogo.

- Temos um talento doloroso e obscuro.

Construímos um lugar de silêncio.

De paixão."

Herberto Helder (Poemacto - 1961)

16/07/07

11/07/07

Zazen


"Toda a infelicidade dos homens advém de
que eles não vivem no mundo, mas no seu mundo."
Heráclito in Os melhores contos Zen, pág.27

16/06/07

Sophia

Rosto

"Rosto nu na luz directa.
Rosto suspenso, despido e permeável,
Osmose lenta.
Boca entreaberta como se bebesse,
Cabeça atenta.
Rosto desfeito,
Rosto sem recusa onde nada se defende,
Rosto que se dá na angústia do pedido,
Rosto que as vozes atravessam.
Rosto derivando lentamente,
Pressentimento que os laranjais segredam,
Rosto abandonado e transparente
Que as negras noites de amor em si recebem.
Longos raios de frio correm sobre o mar
Em silêncio ergueram-se as paisagens
E eu toco a solidão como uma pedra.
Rosto perdido Que amargos ventos de secura em si sepultam
E que as ondas do mar puríssimas lamentam."

Se tanto me dói que as coisas passem


"Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem"

Pudesse Eu

"Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!"

Poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen

28/05/07


Ces rencontres avec eux
"Real. Jean-Marie Straub e Danièle Huillet (França, 2006)
Estreado no final de 2006, um pouco antes da morte de Danièle Huillet, este filme é a sequela de Dalla nube alla resistenza (1979). À semelhança deste filme, "Ces rencontres avec eux" é baseado na obra de Cesare Pavese Dialoghi con Leucò."





Não te perguntaste
porque é que um instante,
.
semelhante a tantos outros passados,
.
te tornou de repente feliz
feliz como um deus?
.
Olhavas a oliveira,
a oliveira na vereda
.
que percorreste todos os dias
durante anos e chega o dia
.
em que o tédio te deixa,
e acaricias o velho tronco com o olhar,
.
quase como se fosse um amigo reencontrado
que te dissesse gentilmente a única palavra
.
que o teu coração esperava.
.
Outras vezes,
.
foi o olhar de um qualquer viandante.
.
Outras, a chuva
.
intermitente durante dias.
.
Ou o grito ruidoso de um pássaro.
Ou uma nuvem
.
que dirias já ter visto.
.
Por um instante,
o tempo pára e a coisa banal
.
sente-la no coração
como se o antes e o depois
.
já não existissem.
.
Não te perguntaste porquê?


Cesare Pavese, «Le Muse», Dialoghi con Leucò (1947)

MNEMÒSINE Non ti sei chiesto perché un attimo, simile a tanti del passato, debba farti d'un tratto felice, felice come un dio? Tu guardavi l'ulivo, l'ulivo sul viottolo che hai percorso ogni giorno per anni, e viene il giorno che il fastidio ti lascia, e tu carezzi il vecchio tronco con lo sguardo, quasi fosse un amico ritrovato e ti dicesse proprio la sola parola che il tuo cuore attendeva. Altre volte è l'occhiata di un passante qualunque. Altre volte la pioggia che insiste da giorni. O lo strido strepitoso di un uccello. O una nube che diresti di aver già veduto. Per un attimo il tempo si ferma, e la cosa banale te la senti nel cuore come se il prima e il dopo non esistessero piú. Non ti sei chiesto il suo perché?


MNEMÓSINE Não te perguntasteporque é que um instante,semelhante a tantos outros no passado, deve de repente fazer-te feliz, feliz como um deus? Tu fitavas a oliveira, a oliveira na vereda que percorreste todos os dias durante anos, até que chega o dia em que o mal-estar te deixa, e tu acaricias o velho tronco com o olhar, como se fosse quase o amigo reencontrado e te dissesse justamente a única palavra que teu coração esperava. Outras vezes é o olhar de um passante qualquer. Outras vezes a chuva que insiste há dias. Ou o chio estridente de um pássaro. Ou uma nuvem que dirias já ter visto. Por um instante pára o tempo, e aquela coisa banal tu sente-la no coração como se o antes e o depois já não existissem. Não perguntaste o porquê disto tudo?

16/05/07

Simples cosas


Cansion de las simples cosas por Mercedes de Sosa.

"Uno se despide insensiblemente de pequeñas cosas,
lo mismo que un árbol en tiempos de otoño muere por sus hojas.
Al fin la tristeza es la muerte lenta de las simples cosas,
esas cosas simples que quedan doliendo en el corazón.
Uno vuelve siempre a los viejos sitios en que amó la vida,
y entonces comprende como están de ausentes las cosas queridas.

Por eso muchacho no partas ahora soñando el regreso,
que el amor es simple, y a las cosas simples las devora el tiempo.
Demórate aquí, en la luz mayor de este mediodía,
donde encontrarás con el pan al sol la mesa servida.
Por eso muchacho no partas ahora soñando el regreso,
que el amor es simple, y a las cosas simples las devora el tiempo."