31/01/07

Hesitação

Monsanto 2006, (c) Maribel Sobreira

"Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.
A minha ebriedade é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra."
Uma voz na pedra de António Ramos Rosa

4 comentários:

  1. Anónimo2/2/07 12:13

    Colhi uma rosa nos teus olhos
    que não deixaram de olhar

    e como ela brilha
    no meu peito

    para a minha alma
    iluminar.

    Ramos Rosa é um poeta da delicadeza. Conheço-o muito mal -dele possuo e li apenas um livro- mas do que conheço gosto bastante.
    Obrigada pela partilha, Maribel
    Luís F. de A. Gomes

    ResponderEliminar
  2. Anónimo2/2/07 14:30

    Mia, sou uma admiradora incondicional do Ramos Rosa. Conheço muito, se bem que não conheça tudo. Há um poema que foi descoberta relativamente recente e creio que não está aqui na net. veja se conhece, e se não, se gosta.

    são versos de O Instante,
    in No calcanhar do vento:

    "Quem posso eu chamar, que palavras lúcidas / e sóbrias, veementes / poderão despertar as ondas felizes, / que outro apelo, que outro alento / aproximará as árvores, o hálito das suas frases?


    Quem me oferecerá no seu corpo o estuário das mãos, / que prodígios da terra deslizarão no repouso, / que declives, que jardins, que palácios diminutos, / que intangíveis enlaces, que adoráveis volumes? / Quem me dará o sossego da fábula mais pura / com o exacto relevo imediata e vagarosa?


    Real e perfeita / num deslizar de gozo, em lábios que emudecem deslumbrados, / real e completo, secreto, imediato, maravilhoso / é o instante que descobre o animal ardente, / a mais ardente exactidão / a mais oferecida à claridade, / a mais contínua, a mais profunda suavidade.


    Estamos dentro de um seio onde nascemos / como de uma montanha latente, somos nascente confusão / de múrmurios silvestres e a magia natural / de um silêncio límpido,, abraçamos a maravilha / aqui e agora, reconcentração na felicidade, / na evidência de delícias, múltiplas, fatais."

    Bom fim de semana

    ResponderEliminar
  3. Anónimo4/2/07 18:13

    Viva Luis!

    Muito bonito o que escreveu!:-)

    Também não o conheço muito bem, mas gosto bastente do pouco que conheço.

    Não agradeça a partilha, é feita sem obrgações e com o maior agrado!

    Resto de bom Domingo

    ResponderEliminar
  4. Anónimo4/2/07 18:17

    Viva Gi!

    Não conhecia e adorei, muito obrigada por o ter partilha, muito obrigada mesmo!!
    Irei publicá-lo. ;-)


    Resto de bom Domingo

    ResponderEliminar