11/04/05

pintar: não a montanha mas o medo


"compôr a luz e
não escrever nunca

dizer: o quadro será (como)
dizer a morte?
ou condizer com a sorte?

pintar: o espaço às voltas
para rimar:
com a montanha-castanha"

01/04/05

Enigma


"Saber onde se encontram o princípio
e o fim: a coincidência dos opostos, a identificação
do mesmo com o idêntico, como se
o tempo, ele próprio, tivesse parado o seu curso. Re-
comecemos, então!

Um tempo preso da sua latitude: o
infinito. Mas o que sei é que, entre o que é e
o que não é, um instante se intromete: a vida,
uma vida, aquilo que corrompe a eternidade
e que obscurece a sua ideia.

A ideia de estadia: paragem no curso
do estático. É essa ideia que dói: mas uma dor abstracta,
o espinho que punge o espírito, que se atravessa
no seu movimento - e retém a máquina humana com a sua
complicada engenharia.

Desmonto, uma a uma, as suas peças. Esqueço-me
de que não saberei como voltar a colocá-las. Não há cadernos
de instruções para os sentimentos; as emoções não se colam
como pedaços do todo que se partiu. Ouço o motor
da alma, a sua rotação irregular no fundo de
suspiros, murmúrios, silêncios.

É como se o vazio caísse, de súbito. Um edifício
que ocupa o espaço dos destroços."

Nuno Judice

31/03/05

Vista 1


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Castelo de Belmonte

27/03/05

ANaifa


Fui ao concerto dos ANaifa na cidade da Guarda.

www.anaifa.com



Vale mesmo a pena perderem tempo a ouvir este grupo!!!


20/03/05

O livro



" «Porque é que tudo isto é belo? Porque é que é bela esta dança?»
Porque se trata de um movimento que não é livre, porque o sentido
profundo da dança reside exactamente na obdiência absoluta e
extática, na nao-liberdade ideal.
(...)
Quando ela entrou, o volante da lógica zunia ainda dentro de mim e, devido à
inércia, não pude deixar de falar da fórmula que acabava de estabelecer
e na qual todos participavamos, nós, a máquina e a dança"

NÓS de Zamiatine

Subitamente surge, tem o teu rosto



"O paraíso terrestre é uma flor verde.
As árvores abrem-se ao meio.
O que é sucessivo perde-se.
Se o tempo modifica os seres e os objectos
eu sinto a diferença e gasto-me.
O sol é um erro de gramática, a luz da madrugada
uma folha branca à transparencia da lampada.
Soam então os barulhos. Soam
de dentro das janelas,
de dentro das caixas fechadas há mais tempo,
de dentro das chavenas meias de café.
É tarde e és tu,
acima de tudo,
entre a manhã e as árvores,
à luz dos olhos,
à luz só do límpido olhar."
Nuno Judice