01/04/05

Enigma


"Saber onde se encontram o princípio
e o fim: a coincidência dos opostos, a identificação
do mesmo com o idêntico, como se
o tempo, ele próprio, tivesse parado o seu curso. Re-
comecemos, então!

Um tempo preso da sua latitude: o
infinito. Mas o que sei é que, entre o que é e
o que não é, um instante se intromete: a vida,
uma vida, aquilo que corrompe a eternidade
e que obscurece a sua ideia.

A ideia de estadia: paragem no curso
do estático. É essa ideia que dói: mas uma dor abstracta,
o espinho que punge o espírito, que se atravessa
no seu movimento - e retém a máquina humana com a sua
complicada engenharia.

Desmonto, uma a uma, as suas peças. Esqueço-me
de que não saberei como voltar a colocá-las. Não há cadernos
de instruções para os sentimentos; as emoções não se colam
como pedaços do todo que se partiu. Ouço o motor
da alma, a sua rotação irregular no fundo de
suspiros, murmúrios, silêncios.

É como se o vazio caísse, de súbito. Um edifício
que ocupa o espaço dos destroços."

Nuno Judice

1 comentário:

  1. Anónimo2/4/05 14:55

    "O todo não é a soma de todas as partes"
    Certamente! Principalmente no que diz respeito ao EU e tudo que dele vem projectado!
    Todavia, as peças não têm de ser colocadas sempre da mesma forma. A vida não é um puzzle estático, quanto muito seria um puzzle quimico, molecular, em constante movimento, em constante alteração e acomodação a algo que nunca para!

    Ora todos iguais, todos diferentes...

    Não se explica mt bem, nem tao pouco é possivel, mas, amando de formas diferentes, pensando de formas diferentes, sendo de formas diferentes, todos precisamos uns dos outros, e os outros, que também precisam de nós, constituem também, esse puzzle giratório, infinito e ilimitado das relações humanas!

    Bah...sei la o que é que tou praki a dizer...
    enfim, bjinhos grandes

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