29/12/06

Reencontro...2

Ma Mère



Pierre, um adolescente de 17 anos, tem um amor cego pela mãe, mas
ela não está disposta a assumir o que o filho projecta dela. Recusando
ser amada por aquilo que não é, ela decide quebrar o mistério e revelar
a sua verdadeira natureza - a de uma mulher para quem a imoralidade se
tornou um vício. Pierre pede para ser iniciado por ela no deboche e deixa-se
levar até ao limite em jogos cada vez mais perigosos...

25/12/06

Palavras e Palavras


"Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte."

HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM, Alexandre O'Neill (1924-1986)Poesias Completa

17/11/06

Diálogos de Vanguarda


Esta patente até Janeiro no edifício sede da Gulbenkian a exposição Diálogos de Vanguarda, que abrange todo o período de actividade artística de Amadeu, e de alguns dos seus amigos.




"A técnica de que fala é coisa em que nem penso. Fixar aí a ideia é parar muito aquem do fim. Qualquer aprende. Ninguém deixa de fazer uma obra de arte intensa por falta de técnica, mas por falta de outra coisa que se chama temperamento."
Carta de Amadeu Souza-Cardoso ao seu tio Francisco




Pintura c.1914, óleo sobre tela

13/11/06

Percurso metafísico



"
(...)

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

(...)

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

(..) "
Tabacaria - Álvaro de Campos, 15-1-1928

06/11/06

Cadáver esquisito



Foi inaugurada na quinta-feira a exposição "Cesariny/Cruzeiro Seixas/ Fernando José Francisco e o passeio do cadáver esquisito" na galeria PERVE.

Esta exposição marca o reencontro, após 55 anos de afastamento, dos três artistas surrealistas, expondo as obras realizadas entre 1941 e 2006.
Para além de reunir trabalhos antigos, a ideia principal foi a de conseguir uma colaboração entre eles, surgindo deste modo o cadavre-exquis (cadáver-esquisito) - técnica "simbólica" do surrealismo francês, que consiste na participação de diversas pessoas para completarem um texto ou um desenho, conhecendo apenas algumas linhas deixadas à vista por uma folha dobrada chagando assim a uma obra colectiva.

As folhas foram passando de casa em casa, sem que os artistas se cruzassem, transformando-o não numa obra una, em que por vezes os artistas se tentam diluir para que as suas linguagens possam convergir, mas persistindo a individualidade do traço e imaginário de cada um.

Para ver até 20 de Dezembro de 2006

Galeria Perve
Rua das Escolas Gerais nº17, 19 e 231100 - 218 Lisboa - Alfama Portugal

31/10/06

Aparição num dia de inverno



"Um dia, lendo este poema, lembrar-te-ás:
o amor falou através dele. Ouvirás no seu ritmo
a voz que tantas vezes desejaste; reconhecerás
nos seus versos o corpo que encheu
a tua vida; tocarás em cada uma das suas palavras
os dedos que te ensinaram a medir os dias
pelas suas contas de ternura. E o tempo
entrará por ti como esse rio que alagou os campos
do inverno. Olharás à tua volta, vendo a desolação
de uma paisagem inundada. Algures, porém,
uma árvore antiga sobressai; e os seus ramos
verdes dar-te-ão a esperança de uma nova
primavera, em que voltes a ouvir a voz
que o poema te trouxe com os seus dedos
de música."


Nuno Júdice, A a Z
Somos feitos de tudo e ao mesmo tempo de nada, de fragmentos que dão razão à existência da ALMA.

A titulo de informação:
o novo Museu Mar da Língua, museu sobre a lingua portuguesa e os decobrimentos tem a sua abertura prevista para 2008,a noticia pode ser encontrada aqui e aqui

29/10/06

Mãos Vazias


"Quero um poema puro, um poema duro,
Um poema grito.
Quero um poema estrondo, um poema urro,
Um poema bramido.
Quero um poema guerreiro, um poema aguerrido,
Um poema combate.
Quero um poema bomba , que tudo destrua,
Que tudo arrase…
….
E quero caminhar sobre as cinzas,
E descobrir os meus pedaços,
E reconstruir o presente,
E soltar o meu grito de combate:
Eis-me!
Dura, inteira, guerreira!
Eis-me!
Caneta-arma,
Caneta-amor!
Soltando o meu poema duro,
Cantando e chorando a dor.
Gritando o meu poema urro,
Entoando cantos de amor.
E dando-me em cada verso.
E entregando-me em cada poesia.
E ficar só…
Tão só no fim do poema,
Estendendo as mãos vazias."


Erotismo na Cidade, Encandesceste

26/10/06

Transe



... de Teresa Villaverde, retracta a vida de Sonia, uma jovem russa que cai nas teias do tráfico de mulheres e consequentemente na prostituição.

Tema que poderia levar ao sentimentalismo gratuito, o que não se passa, leva-nos sim, apesar da temàtica, a uma poética das trevas em que o espectador vai construindo a história através das peças subtis que o silêncio nos dá, tornando-se, como diz Heiddegger, o modo autêntico da palavra.

17/10/06

Noções


"Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.

Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.

Virei-me sobre a minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera..."

Cecília Meireles - enviado pela minha querida Amiga Giza.

04/10/06

Esplendor na relva


"What though the radiance which was once so bright
Be now for ever taken from my sight,
Though nothing can bring back the hour
Of splendour in the grass, of glory in flower;
We will grieve not, rather find Strength in what remains behind.“*


Tradução livre:

Aquele brilho outrora tão resplandecente
Dos meus olhos se ausentou para sempre
E agora, apesar de perdido o esplendor na relva
E o tempo de glória em flor,
Em vez de chorarmos, buscaremos força
No que para trás deixamos.

* Parte do poema " Intimations of Immortality" de Willian Wordsworth, retirado do filme "Esplendor na relva" de 1961, escrito por Willian Inge com a interpretação de Natalie Wood, Pat Hingle e Warren Beatty.

23/09/06

Cogitação


Retiro-me por uns tempos para tentar perceber o MUNDO
na companhia do lirismo da Katie Melua, deixando-me
levar no imaginário de Lewis Carroll e lentamente caindo
no pessimismo de Schopenhauer, indo aos poucos ao
encontro do meu SER.


18/09/06

A sombra sou eu


"A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!"


José de Almada Negreiros

10/09/06

A eles



"Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.
(...)

Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundissimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insignia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma
na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertence
ao habitante menos misterioso,
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gatos, companheiros,
colegas,
díscipulos ou amigos
do seu gato."

Plabo Neruda, "Ode ao Gato".

05/09/06

Caminho para a abstração


Macieira - Piet Mondrian

Sou de vidro


" Meus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecido
Encubro a luz que me habita
Não por ser feia ou bonita
Mas por ter assim nascido
Sou de vidro escurecido
Mas por ter assim nascido
Não me atinjam não me toquem
Meus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestido
E um cinto de escuridão
Mas trago a transparência
Envolvida no que digo
Meus amigos sou de vidro
Por isso não me maltratem
Não me quebrem não me partam
Sou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestido
Mas por assim ter nascido
Não por ser feia ou bonita
Envolvida no que digo
Encubro a luz que me habita.".

Lídia Jorge

01/09/06

Rembrandt





“Um quadro não é feito para ser aspirado ; recuai:
o odor da pintura não é são”
(Rembrandt).





Filósofo em Meditação (1632), Rembrandt.

30/08/06

Fado do retorno


"Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Voltaste, já voltaste
Já entras como sempre
Abrandas os teus passos
E páras no tapete

Então que uma luz arda
E assim o fogo aqueça
Os dedos bem unidos
Movidos pela pressa

Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Voltaste, já voltei
Também cheia de pressa
De dar-te, na parede
O beijo que me peças

Então que a sombra agite
E assim a imagem faça
Os rostos de nós dois
Tocados pela graça.

Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Amor, o que será
Mais certo que o futuro
Se nele é para habitar
A escolha do mais puro

Já fuma o nosso fumo
Já sobra a nossa manta
Já veio o nosso sono
Fechar-nos a garganta

Então que os cílios olhem
E assim a casa seja
A árvore do Outono
Coberta de cereja."


Lídia Jorge

Eu, tu e todos os que conhecemos.



Recomenda-se!!!
Sinopse


29/08/06

Prédica


" Acontece a muitas obras ( e é também o objectivo estrito de certas artes) não conseguirem irradiar outra coisa senão efeitos de intenção primária. Se se demora neles, descobre-se que apenas existem à custa de qualquer inconsequência, de qualquer impossibilidade ou de qualquer prestígio, que um olhar prolongado, ou questões indiscretas, ou uma curiosidade talvez um pouco demasiado desenvolvida poriam em perigo. (...) O público confunde demasiadas vezes a arte da restrita decoração, cujas condições se estabelecem em relação a um lugar bem definido e limitado, e necessitam de uma perspectiva única e de uma certa iluminação, com a arte completa na qual a estrutura, as relações, tornadas sensíveis, da matéria, das formas e das forças são dominates, reconhecíveis a partir de todos os pontos do espaço, e introduzem, de algum modo, na visão, não sei que presença do sentimento da massa, da potência estática, do esforço e dos antagonismos musculares que nos identificam com o edifício, através de uma certa consciência do nosso corpo completo."

Valéry,Paul, Discurso sobre a estética - Poesia e Pensamento abstracto, edições Vega,colecção Passagens 1ªedição, pág.35.

23/08/06

Kali decapitada


" (...) idade em que Tudo se funde em Nada, como se esse puro nada que acabava de conceber estremecesse dentro dela à maneira de uma criação fuura.
O Mestre da grande compaixão ergueu a mão para abençoar a caminhante .
- A minha cabeça tão pura foi soldada à infâmia - disse ela. - Quero e não quero, sofro e contudo exulto, tenho horror à vida e terror à morte.
- Todos nós somos incompletos - disse o Sábio. - Todos somos divisão, fragmentos, sombras, fantasmas sem consistência. Todos julgámos chorar e exultar desde há séculos e séculos."

Yourcenar, Marguerite, Contos Orientais - Kali decapitada, Publicações Dom Quixote, 5ª edição Maio de 2002, pág135.

11/08/06

Soneto do amor total


"Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude."

Vinicius de Moraes

09/08/06

Júbilo



Bleu - Krzysztof Kieslowski

Musica de Zbigniew Preisner

08/08/06

A paixão


"Felizmente, não teve mau resultado.(..). Paixão foi elemento que nele não entou.
- Como é que sabe?
- A paixão não mede as consequências. Pascal disse que o coração tem razões que a razão desconhece. Se é que interpretei bem, queria dizer que, quando a paixão se apodera de um coração, esta inventa, para provar que pelo amor todo o sacrifício é pouco, razões não somente palusíveis, mas elucidativas. Ficamos convencidos de que vale a pena aceitar a desonra, e que a vergonha não é preço exagerado para se pagar por ele."

Maugham, W.Somerset, O fio da navalha, Edição « Livros do Brasil» Lisboa, Janeiro de 2000, pág.150.

02/08/06

Hypomnemata


"O papel da escrita é constituir, com tudo o que a leitura constitui, "um corpo" (quicquid lectione collectum est, stilus redigat in copus). E, este corpo, há que entendê-lo não como um corpo de doutrina, mas sim (...) como o próprio corpo daquele que, ao transcrever as suas leituras, se apossou delas e fêz sua respectiva verdade : a escrita transforma a coisa vista ou ouvida " em forças e em sangue" ( in vires, in sanguinem.). Ela transforma-se, no próprio escritor, num principio de acção racional."

Foucault, Michel, Oque é um autor?, Editora Vega, colecção Passagens, 4ª Edição, pág.143.

18/07/06

LA LUMIÈRE DU MONDE



" Tradução (VIII) :

Quando eu era criança já achava que as coisas não batiam certo com o que me contavam delas. Mantinha-me todo o tempo ao lado do mundo, no lado mudo da vida que recusava obstinadamente entrar no mundo das convenções. Preferi ir eu ao encontro das coisas perguntar-lhes o nome, em vez de usar o nome que os outros lhes davam. Assim, o revestimento cinzento de uma parede irradiado pelas rosas era capaz de me iluminar: eu quase conseguia ouvi-las. Podia acontecer com as rosas, com um rosto varrido por um raio de generosidade, com o sofrimento de uma mãe, ou a doçura trazida a um rosto pelo cansaço. Durante trinta anos recusei-me a entrar fosse no que fosse que me pudesse enlouquecer: os constrangimentos e as actividades de tempos livres tal como o mundo no-los propõe. Era sempre o ruído de fundo que eu ouvia em todo o lado. Esta história podia ter acabado mal: eu podia ter enlouquecido para não enlouquecer. Para além de ter havido, na minha vida, elementos de conto de fadas: tive realmente uma antepassada que morreu com uma picada de espinho de roseira."

Christian Bobin, LA LUMIÈRE DU MONDE, retirado do blog Risocordetejo


13/07/06

Níveis


" As realidades psicológicas e as das artes vivem em níveis distintos de significação: Freud nos oferece uma chave para entender o Édipo, mas a tragédia grega não se reduz às explicações da Psicanálise. Levi-Strauss diz que a interpretação de Freud é apenas outra versão do mito Édipo: Freud nos conta, em termos correspondentes a uma época que substitui a analogia mítica do pensamento lógico, o mesmo que Sófocles nos contou."

Paz, Octávio, Marcel Duchamp - ou o castelo da pureza, Editora Perspectiva, 3ª edição, 2004,pág.37.

07/07/06

O ponto de todos os pontos


" (..) disse que para terminar o poema a casa lhe era indespensável , pois num ângulo da cave havia um Aleph. Esclareceu que um Aleph é um dos pontos do espaço que contêm todos os pontos

- Está na cave debaixo da sala de jantar - explicou, com a voz aligeirada pela angustia. - É meu, é meu; descobri-o na infância, antes da idade escolar. A escada da cave é inclinada, os meus tios tinham-me proibido de descer, mas alguém me disse que havia um mundo na cave. Referia-se, soube-o depois, a um baú, mas eu pensei que havia um mundo. Desci secretamente, tropecei na escada proibida, caí. Ao Abrir os olhos, vi o Aleph.

- O Aleph? - perguntei.

- Sim, o lugar onde estão, sem se confundirem, todos os lugares do mundo, vistos de todos os ângulos. (...).

Procurei raciocinar

- Mas não é muito escura a cave?

- A verdade não penetra num entendimento rebelde. Se todos os lugares da Terra estão no Aleph, ali estarão todas as luminárias, todas as lâmpadas, todas as fontes de luz.".

Borges, Jorge Luis, O Aleph (Obras Completas Vol.I), Lisboa, Teorema.




19/06/06

Transcendência


" Essência e existência, imaginário e real, visível e
invisível, a pintura confunde todas as nossas categorias
desdobrando o seu universo onírico de essências
carnais, de semelhanças eficazes entre significações mudas.".

Merleau-Ponty, O Olho e o Espírito, Edições Vega, 2004, pág. 32.

26/04/06

Um Rosto


"Apenas uma coisa inteiramente transparente:
o céu, e por baixo dele a linha obscura do
horizonte
nos teus olhos, que pude ver ainda
através de pálpebras semicerradas,
pestanas húmidasda
geada matinal, uma névoa de palavras
murmuradas
num silêncio de hesitações. Há quanto
tempo,
tudo isto? Abro o armário onde o tempo antigo
se enche de bolor e fungos; limpo os
papéis,cartas que talvez nunca tenha lido até
ao fim, foto-grafias
cuja cor desaparece, substituindo os corpos
por manchas vagas como aparições; e
sinto,eu
próprio, que uma parte da minha vida
se apaga
com esses restos."

Nuno Judice