"A arte não é confortável nem falsificável. A arte conta a única verdade que em definitivo interessa. É a luz através da qual os seres humanos podem ser corrigidos. E para além da arte, permitam que vos diga, não existe nada." Iris Murdoch
Monsanto 2006, (c) Maribel Sobreira
"Não sei se respondo ou se pergunto.Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.Estou um pouco ébria e estou crescendo numa pedra.Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.De súbito ergo-me como uma torre de sombra fulgurante.A minha ebriedade é a da sede e a da chama.Com esta pequena centelha quero incendiar o silêncio. O que eu amo não sei. Amo em total abandono.Sinto a minha boca dentro das árvores e de uma oculta nascente.Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.Não estou perdida, estou entre o vento e o olvido.Quero conhecer a minha nudez e ser o azul da presença.Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra."Uma voz na pedra de António Ramos Rosa
"Não sou daqui, mas gosto d’aqui estarDe aprender no lugar do outro a m’encontrarDe poder um lugar achar, no estar aquiDesejar o lugar de todos neste lugarE saber, no lugar d’aqui, o meu lugarApresentei esta proposta de concerto à Culturgest, porque é ela a casa, em Lisboa, que os cantos do Não sou daqui, o meu mais recente trabalho, desejavam. São cantos que convocam os mundos do mundo, entre o aquém e o além das designações identitárias ou dos géneros musicais. Procuram, no território dos poemas, outras geografias para as pertenças, tentando nelas identificar o que já fomos, mas sobretudo o que ainda viremos a ser. As utopias começam na forma como cada um se projecta num mais além. E nesse lá, poderá a canção ser, nem que por breves momentos, o “ lugar de todos”?
Não sou daqui desafia as fronteiras da canção, na procura de um lugar de lugares onde a palavra, qual Gulliver em viagem, se apequena ou se agiganta em função dos territórios que atravessa, gerando percursos, tacteando vazios, perdas e danos, criando rotinas, tédios e alegrias, silenciando-se, para que outras “vozes” ganhem protagonismo.
Aqui, no horizonte da Culturgest, já sentimos à partida o apelo do ir ao encontro dos outros e do futuro. Trazemos para o seu palco do mundo, imagens e cumplicidades entre uma voz, um piano, um contrabaixo, vários sopros, percussões e tudo o mais que convites inesperados possam acrescentar. Interrogando sobretudo o que somos e o que nos preocupa e sobressalta. E homenageando, sempre, todos os que amamos."Amélia Muge in Culturgest"Não sou daqui" tem composições de Amélia Muge, para poemas dela própria e de António Ramos Rosa, Eugénio Lisboa, Hélia Correia e Sophia de Mello Breyner Andresen.
AMÉLIA MUGE apresenta “Não Sou Daqui” ao vivo no dia 8 de Fevereiro (15h), no Teatro da Luz (Programa “Viva a Música” de Armando Carvalhêda) e no dia 17 na Culturgest (21h30), em Lisboa.
Homem Teatro, escultura de Soares Branco, 1963
""Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento,Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade,Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada.Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.Assim tudo o que existe, simplesmente existe.O resto é uma espécie de sono que temos, infância da doença.Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.""Assim Como, Alberto Caeiro
“Ei-la então: uma Vanitas que cumpre a sua função de nos lembrar que a todos, inebriados, festivos, lúdicos, teatrais, violentos, patéticos seres humanos, nos espera um encontro irremediável com a morte. A matriz onírica do encontro que se dá no texto de Almeida Faria ou na representação de Paula Rego é talvez apenas uma forma de eufemismo na encenação da crueldade desta evidência.” CAMJAP
Inaugura hoje pelas 22h no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian a exposição VANITAS de Paula Rego, em simultâneo com o lançamento do livro VANITAS, 51, AVENUE D’IÉNA de Almeida Farias, conto que inspirou a obra.
Estará patente até dia 25 de Março de 2007.